Tuesday, January 02, 2007

Palavras ridículas


Tocar-te e não te poder tocar
Sentir-te e não te poder sentir
Ver-te e não te poder ver
Ouvir-te e não te poder escutar

A ausência fere as palavras
E as palavras acentuam a ausência

A alquimia da voz faz-se alquimia do corpo
A alquimia do corpo faz-se alquimia da voz
E o sentido desta carta perde-se

Num devaneio risível
Numa escrita ridícula.

É uma carta ao meu amor
E o meu amor numa carta

São palavras sem graça
É a graça sem palavras...

Que é o que sobra
E o que sobra é o Universo.

E eu não o sei escrever
Não sei como se diz infinito

O infinito do que sinto
É vasto demais para palavras.

O que sinto não se diz – sente-se.
E o que se sente é dito sem jamais se dizer.

Porque o que sinto
São as minhas mãos tuas
Ou as tuas mãos minhas

O que sinto
Só as mãos o podem dizer.

Só os olhos mergulhados no infinito
Só os corpos unidos na chama de um afago

Só a ternura num sorriso de eterna beleza
Só as almas na comunhão dos corpos

So o Uno pode, enfim, um dia

Dizer.