Palavras ridículas

Tocar-te e não te poder tocar
Sentir-te e não te poder sentir
Ver-te e não te poder ver
Ouvir-te e não te poder escutar
A ausência fere as palavras
E as palavras acentuam a ausência
A alquimia da voz faz-se alquimia do corpo
A alquimia do corpo faz-se alquimia da voz
E o sentido desta carta perde-se
Num devaneio risível
Numa escrita ridícula.
É uma carta ao meu amor
E o meu amor numa carta
São palavras sem graça
É a graça sem palavras...
Que é o que sobra
E o que sobra é o Universo.
E eu não o sei escrever
Não sei como se diz infinito
O infinito do que sinto
É vasto demais para palavras.
O que sinto não se diz – sente-se.
E o que se sente é dito sem jamais se dizer.
Porque o que sinto
São as minhas mãos tuas
Ou as tuas mãos minhas
O que sinto
Só as mãos o podem dizer.
Só os olhos mergulhados no infinito
Só os corpos unidos na chama de um afago
Só a ternura num sorriso de eterna beleza
Só as almas na comunhão dos corpos
So o Uno pode, enfim, um dia
Dizer.
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