Tuesday, June 26, 2007

Morte à beira Mar



Hoje estou solto. Nem sequer tive um minuto para dedicar à minha mais recente conquista. Se calhar, porque a conquistei, sinto-a já conquistada e não me apetece falar-lhe - não hoje.

Hoje não quero nada com compromissos ou palavras de Amor. Hoje estou solto e livre e é meu desejo prolongar esta sensação pelo menos até ir dormir e amanhã acordar com todo o peso da solidão a tolher-me os movimentos.

Em dias como o de hoje, dia de papagaios e caturras apaixonadas na estupidez de uma carícia que se faz violenta em excesso, gosto de sentir-me assim, livre, solto.

Talvez seja já tarde para voluntariamente me aprisionar outra vez. Estive tanto tempo com alguém, depois estive tanto mais tempo com outro alguém, que agora estou só, e embora a prisão da solidão por vezes me embarace os movimentos e me amargue o pensamento, dias há, como o de hoje, em que gosto de estar só, e é na solidão que mais livre me sinto.

Não será esta prosa porventura tão honesta como seria desejável. Porque sim, porque hoje estive e estou só, só que estive só e estive acompanhado.

Hoje foi dia de amigos, antigos, novos, e dia de liberdade, como só os amigos nos podem proporcionar. Os verdadeiros amigos só nos exigem que estejamos presentes e que gostemos das mesmas coisas que eles e acima de tudo que não sejamos hipócritas. É por isso que gosto tanto de estar só com os amigos.

Hoje foi dia de crocodilos e de McDonalds. Hoje foi dia de andar às voltas a cronometrar as rondas do segurança no Zoo, na esperança vã de que chegasse no preciso momento em que galgávamos a passagem encerrada do carrousel, só porque nos dá gozo chateá-lo.

Hoje foi dia de febras com arroz e batatas fritas de pacote, acompanhadas por um jarro de barro de vinho da casa e uma empregada de mesa ucraniana.

Hoje foi dia de folga. Dia de folga de tudo o que me pressiona, de tudo o que me faz pensar, foi dia de folga e foi um dia saudável. Pequeno-burguês, como se dizia na terminologia dos meus avós e até por isso mesmo um excelente dia saudável, na risota com amigos novos e antigos e em liberdade.

Um dia de folga no zoo com amigos e a liberdade a escorregar-se das mangas do casaco até se vir esfumaçar no preço dos hamburgers com vista para os crocodilos do Nilo do McDonalds.

Hoje foi também dia de estrada. Foi um dia de tantos carros, tantas vidas que se cruzam jamais se tocando. Tantos carros, tanta gente, Almada cheia, a Cruz de Pau feita ovo, Lisboa com espaço para estacionar e no Zoo um perfume de juventude, a amigos novos e antigos que me aceitam e que me tomam por um deles sem me exigirem mais do que a minha boa disposição e a cumplicidade de um final de ano feliz. Hoje foi um dia de camaradas.

E como tudo na vida, sempre que hoje é um dia de camaradas entre rapazes amigos novos e antigos, hoje foi também um dia de milfs. Também foi dia de milfs como o são todos os dias no zoo, iniciando amigos novos e antigos no sempre renovado prazer de apreciar até à exaustão como são apetitosas à vista e sempre foram as novas mães casadas de fresco.

E não só. Hoje foi dia de book fotogénico de brasileiras mulatas vestidas de mini-saia e sapato estilete. Que nos cortou a respiração em mais de uma ocasião antes de o cinismo próprio a amigos novos e antigos se manifestar em sonoras gargalhadas.

Hoje foi mais um dia. O mais importante deste dia, é que tu voltaste. Voltaste amarga. Voltaste com os sonhos embrulhados na tua mais recente úlcera. Voltaste e tocas-me outra vez. Fazes com que anseie por te abraçar e te proteger. Fazes com que deseje que não estejas assim, que estejas feliz como eu estava. E então, pois, hoje é noite de sonhar com um rio que morre à beira Mar.